sexta-feira, 4 de junho de 2010

amigo Ferrado pela ferrari,



Ouvi o relato de um amigo que comprou umas camisetas da marca Ferrari e depois se ferrou com o cartão de créditos. Fiquei com a estória na cabeça e resolvi escrever o seguinte pra ele:

Querido amigo Ferrado pela ferrari,

Em uma análise que visa somente trocar impressões e não julgar seus impulsos e valores, me referirei a questão do consumo. Tenho estudado o marketing em várias modalidades e a que mais domino ou talvez me impressione creio ser a parte comportamental que é estudada pro consumo.

O valor agregado às marcas, os signos de distinção, discriminação, status, afinidade, afetividade etc, são alguns conceitos que tornam legitima ou não a valorização que se dá por determinado produto e marca.

A maioria de nós recebe passivamente essa lavagem de elementos, pois vivemos em um mundo social cheio de códigos, esse sistema não é sinônimo de liberdade embora se baseie em imagens que muito se assemelham a ela.

Então fico pensando em como pode a gente ser tão vulnerável de mesmo sabendo isso tudo, ainda assim achar o máximo comprar uma simples camiseta feita na China (whatever se foi na Europa , se foi o regime lá de mão de obra com certeza é similar ao chinês, feito em algum pueblo do sul da Europa)... Voltando, gastar rodos (veja bem, sei que preço é algo subjetivo, o valor é intangível) com a desculpa do afeto que temos pelo conceito envolvido... Essa camisa de malha ou sei lá que material, terá uma vida útil, envelhecerá, logo outras mais "bacanas" estarão no mercado, mas nessa hora tudo fica escuro e só vemos a grande oportunidade de consumir um fetiche, um bem que carrega uma carga emocional...

O rico tem o direito de comprar uma camiseta básica de algodão da Diesel por 500,00 no Brasil, o que quer parecer rico quando vê por 499 trata logo de aproveitar - aqui faço uma ressalva, não critico a questão da  liberdade de escolhas... Refiro-me a  idiotice que nos leva a comprar quando sabemos o que há por tras das marcas, independente do poder de compra/ classe social.

Beijos,
Janara.

2 comentários:

  1. Oi Janara,

    O seu amigo da Ferrari, de fato possui um perfil consumista impulsivo. Pois ao se deparar com uma oferta, logo foi se esquecendo do que há por trás. Porém, não o que há por trás da marca em si - a marca reflete, às vezes, uma personalidade, uma torcida, um cartão de visitas - e sim o que há por trás da tributação no Brasil.

    Um produto de origem Chinesa, européia e etc., recebe na fonte uma tributação de 60%. Alavancando o preço do produto e o tornando irreal para os parâmetros brasileiros. A economia brasileira faz com que os preços se distorçam, tanto os importados como os nacionais.

    Pq a Hering não é mais a mesma em preço? Pq ela tem margem para elevar seu preço, uma vez que a preferência do consumidor é para produtos importados... Ao elevar o preço, ela adquiriu uma nova faixa de consumidores. Portanto, o preço discrimina seus consumidores.

    O fato de sermos idiotas, ninguém consegue explicar...O consumo envolve utilidade e necessidade. Caso vc tenha a oportunidade de estudar microeconomia e entender as variáveis das curvas de preferências em cestas de consumo, vc vai perceber que aquilo não têm nada haver. Economia e psicologia são complementares, mas o vácuo que se projeta entre essas duas ciências faz com que o ser humano seja imprevisível no que tange o consumo.

    Volto a introduzir o tema do sistema economico, o Capitalismo. O consumo é o motor da economia, empresários sabendo disso criam cada vez mais produtos novos para que os idiotas comprem. A concorrência cria idiotas - a corrida ao ouro cria idiotas. Enquanto o capitalismo existir, os idiotas insistirão à surgir.

    Mas já dizia Bakunin:

    "Liberdade sem o socialismo é privilégio, injustiça; e o Socialismo sem a liberdade é escravidão e brutalidade"

    Beeeijos!
    Fernando Sobral

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  2. hahah adoro meus leitores!

    Sempre seremos consumidores, qual o tipo de consumo e consumismo para uma “sociedade de consumo” é que é a questão levantada aqui. Alguns autores dizem que todo e qualquer ato de consumo está relacionado a forças globais de produção, circulação, inovações tecnológicas, relações políticas etc, e também para construção de identidades, diferenciação e exclusões sociais. O apego material não é característica nova - como bem colocou, cabe considerar as necessidades e diferenças existente entre sociedade de consumo e cultura de consumo:

    SOCIEDADE DE CONSUMO:
    capitalista e mercado
    acumulação cultura material sob forma de mercadorias e bens
    compra como principal forma de aquisição de bens
    consumo de massas e p massas
    alta taxa de consumo individual
    taxa de descarte de mercadorias quase igual de aquisição
    consumo de moda (novidades)
    consumidor como agente social e legalmente reconhecido nas transações econômicas.

    CULTURA DE CONSUMO:
    ideologia individualista
    valorização da noção de liberdade e escolha individual
    insaciabilidade
    consumo como principal forma de reprodução e comunicação social
    cidadania expressa na linguagem do consumidor
    fim da distinção entre alta e baixa cultura
    signo como mercadoria
    estetização e comoditização da realidade

    Tenho alguns referenciais teóricos
    BAUMAN "consuming life"
    BAUDRILLARD sociedade de consumo
    LÍVIA BARBOSA sociedade de consumo (tbm)
    GILLES LIPOVETSKI (vários)

    Bjos!

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