segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Plágio na moda praia?


Ontem saiu uma reportagem no Jornal da Globo sobre a história de uma artesã que após criar um modelo de biquíni super diferente - teve sua ideia copiada e escalada em proporções de indústria chinesa para os Estados Unidos. O modelo que ela criou é facilmente encontrado no Brasil e já tem até video no YouTube ensinando a reproduzi-lo.

 Diante da popularização deste modelo, assim como de outras criações dos anos 1970 e 1980 como o "fio dental", o "cortininha" e o lacinho que se destacam pelas suas características da modelagem / shape, fica a pergunta sobre as fronteiras entre tendência de moda e cópia e como discernir e caracterizar cada uma.
  Com o crescimento do setor textil vem aumentando também a demanda por estudos na área do direito da moda ("fashion law") - que mescla diversas áreas do direito para o estabelecimento de parâmetros de proteção para os criadores, já que não existem regulamentações nem jurisprudência específicas que dêem conta das demandas de uma indústria que no Brasil já representa o maior parque de confecção do mundo e é o maior empregador da indústria da transformação.
  Este episódio envolvendo a artesã criadora dos biquínis e o mercado de moda x plágio é uma ótima oportunidade para o Brasil se posicionar com relação às leis brasileiras de autoria, registros, patentes, marcas e o combate “anti plágio na moda”. 
Nos últimos anos, a quantidade de marcas de moda praia aumentou exponencialmente em um ritmo global surpreendente. O Brasil tem a reputação de ser criador e lançador de tendências, sendo o Rio de Janeiro detentor de um  "DNA" da criação; não é por acaso que os números sobre a Indústria Criativa do Rio se destacam. Diante da revolução de um segmento antes tido como secundário - para um lugar de nobreza na indústria, nosso biquíni é tido como benchmark nacional reconhecido internacionalmente pelos impressionantes números de produção, consumo interno e exportação.
Dito isto, não é de se estranhar que a moda praia brasileira comece a ser copiada nos países que também consomem o produto: onde a cultura de praia tem seus contornos na cultura do corpo.
Foi o caso do modelo “Asa Delta” que já completa quase 5 décadas - de autoria do Cidinho Pereira empresário da marca Bumbum Ipanema; recentemente em matéria na revista Vogue Brasil (Janeiro, 2019), o modelo teve destaque, contudo, o nome do seu criador não foi lembrado, talvez porque o modelo já está tão enraigado no imaginário e incorporado ao repertório de estilo do segmento que acharam supérfluo citar sua origem. Será que o criador pensa igual? O que se sabe é que o mercado da moda se apropria do que alimenta a efemeridade do consumo constantemente - parafraseando Lipovetsky, então, de tempos em tempos surgirão releituras e "inspirações" que estão certamente em uma categoria mais "digna" comparado às réplicas descaradas.
A questão que proponho uma reflexão gira em torno de uma "disruptura" no contexto da moda como um todo, talvez, para este setor do Brasil ser levado mais à sério, seja necessário reforçar o auxilio aos criadores para que eles consigam com mais facilidade registrar suas ideias e produtos e que haja maior manutenção da fiscalização e dos dispositivos legais que atuem dando suporte nas investigações e processos judiciais - contra a indústria “usurpadora” dos criativos. Vale lembrar que existem também enormes entraves para o processo de registro,  os próprios representantes do INPI reconhecem os problemas gerados pela demanda e prazos longos. 


Talvez meu texto soe um pouco alarmante, mas não é. Enquanto pesquisadora, criativa e com trajetória iniciada no varejo de moda - passei por várias experiências de projetos usurpados até durante a faculdade, colecionei decepções ao sentir na pele a injustiça de ter uma ideia ou projeto roubado de forma grosseira e notória ao longo dos últimos 20 anos.

Vejo como um passo muito positivo o escândalo que repercutiu até no NY Times vivido pela paulista Solange Ferrarini. Espero que ela ganhe a ação e que saia muito caro para quem copiou! 

Que repercuta bastante para a gente continuar liderando não só em  termos de criatividade mas também de produção e mercado. A ética às vezes vêm com a imposição das leis e aplicação das penalidades nessa moda praia de um oceano vermelho.

Janara Morenna, Estudante de doutorado, Departamento de Artes e design PUC Rio.

Obs: Gostou do texto? Compartilhe com referência e de preferência sem usar para captar mailling list já que não é conteúdo seu.