segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Do bikini ao biquíni, um pouco da história dessa moda


Todo corpo contém inúmeros outros corpos virtuais que o indivíduo pode atualizar por meio da manipulação da sua aparência e de seus estados afetivos. (...) Roupas, cosméticos, atividades físicas formam uma constelação de produtos cobiçados destinados a ser o camarim onde o ator social cuida daquela parte como se fosse um cartão de visitas de carne e osso. (Le Breton, apud Stéphane Malysse, 2002, pg.79).

Foi a partir de D. João VI no século XIX que a praia-terapia se popularizou sendo incorporada na rotina dos cariocas. Na altura, João VI possuía uma prescrição médica com todas as recomendações para o banho que curaria seus problemas de pele, (inflamações causadas por mordida de carrapato). 
Desde então a “cultura de praia” começa a ter seus contornos no Brasil, sendo estimulada e institucionalizada a receber banhistas em barcas de banho: camarotes separados, forrados em cobre e suspensos por correntes de ferro. Para ter acesso ao famoso banho terapêutico o banhista deveria pegar antes um bote até chegar às engenhocas. Com o passar do tempo essa ideia inicial foi modernizada e os caixotes passaram a ser cabines de banho, muito comuns nas praias, encontradas até hoje na pequena praia da Urca, que serviam para a troca da roupa pelo traje de banho, nelas haviam frequentes avisos do tipo: “É expressamente proibido fazer furos nestas cabines; os encontrados serão entregues à polícia” (Del Priori, 2013, pg. 226).
Antes da década de 1920, uma pele morena era considerada vulgar por brancos ricos, porque essa cor estava associada a trabalho físico sob o sol. Nos anos 20, porém, americanos ricos começaram a passar férias na Riviera francesa, e logo se tornou moda estar bronzeado (Svendsen, 2004, p.99).
Tal “inversão de valores” atribuídos à cor da pele mudaria também toda a organização de tempo no espaço social. Ter status e conforto material passaria a significar ter tempo de ócio para a exposição ao sol, entretenimento social e práticas esportivas, que resultaria na revolução de costumes e que permitiria a distinção social através da aparência física bronzeada e torneada pelo esporte. Essas mudanças de hábitos contribuíram para o surgimento dos primeiros trajes de banho, que naquela altura foram considerados um insulto à moral, pudor e decência. Cabe dizer que em outras épocas os Egípcios e Romanos já utilizavam o método da helioterapia, assim como no sul da península Itálica (nos séculos IV e V) os trajes de banho, similares ao tomara que caiae calcinha de biquíni também já eram usados, porém o objetivo era a prática de esportes, pois eles tomavam nus os banhos de mar.

Severas leis de convívio eram implementadas para se frequentar a praia. Enquanto o maiô gerava escândalo (à partir de 1917) a ida à praia era regulamentada: os horários eram restritos e haviam códigos para a vestimenta tudo conforme a norma moral da época, que impedia trajes considerados indecentes. Até mesmo a entonação da voz era controlada, era proibido falar alto nas praias. Tal lei foi logo derrubada apenas com um ano de existência. Copacabana teve seus primeiros postos de salvamento no ano seguinte, em 1918, enquanto que Ipanema era uma praia inexpressiva para os banhistas da época.
O período que se seguia, os anos loucos de 1920 foram marcados por reformistas, inconformistas e ativistas. O Brasil acompanhou esse período e as transformações causadas pela queda da hegemonia europeia quando os holofotes do mundo se voltavam para os Estados Unidos, que graças ao cinema disseminava sua cultura, como colocado pelo professor Ivo Pitanguy em entrevista para esta pesquisa. As mulheres se baseavam no modelo hollywoodiano de comportamento social, nos modismos e claro, nos padrões de beleza vigentes da época. Eram influenciadas pelas heroínas consideradas ousadas para época. Trabalhar, dirigir, fumar, praticar esportes eram práticas consideradas transgressoras, portanto, serviam de fonte de inspiração e modelo de vida.

Janara Morenna, doutoranda PUC Rio, Depto de Artes e Design e pesquisadora do Bikini Art Museu - Alemanha.

Trecho extraído da pesquisa de mestrado: link PDF completo  
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Vídeo YouTube "100 Years of Swimsuits | Condé Nast Traveler""

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